Sub-Versos
(Monólogo para Anti-Teatro)
(Para Chico Buarque de Holanda e Vinícius de Morais)
Censura sem sura, que seria?
Seria cen sem sura ou sura sem cen!
(Aplausos nervosos!)
Um verdadeiro atentado aos bons costumes
da Língua e à moral da Academia!
(Silêncio pudico...)
Linguisticamente, ofereço a solução:
(Soluços)
O que está faltando às partes formadoras de censura
é o significado e o significante!
(Risinhos nervosos de duas universitárias. Fazem Letras...)
Se os tivessem, cen, sem sura, seria,
assim como também seria, sem cen, sura!
(Sai do palco, rapidinho! Desce o pano.)
(Muitos aplausos. Sons estranhos. Correria geral!...)
(Dacca, Bangladesh, 8.2.1977)
Vejam, Vocês não Viram!
A minha Poesia não é Poesia minha.
Pretende ser o que sou, não o que é,
pois o que é não parece ser aos seus olhos inviáveis.
Acima de tudo, há os segredos que se prezam tanto
que não se oferecem nem nas entrelinhas
do Poema que sou, Poesia que não é, apesar de ser.
(Dacca, Bangladesh, 9.3.1977)