Os Mais Belos Versos

("Les Plus Beaux Vers", de Edmond Haraucourt)

(Tradução de Luiz Carlos Monteiro Nogueira)

 

Os mais belos versos, jamais se escreverão:

Aroma de flores pela alma já sonhadas,

luzes do infinito, riquezas intocadas,

cantos dos vales, que nos cimos se ouvirão.

 

Assombram esse espaço os poemas, qual chamas,

exílio em mistério, éden, jardim sagrado

onde nunca, da arte, penetrou o pecado

mas que poderás ver um dia, se me amas.

 

À noite, quando o amor unir nossos espíritos

em silêncio, num silêncio de imensa calma,

deixa repousar tua alma sobre minha alma,

para então ler os versos que eu não tenho escritos...

 

(Barcelona, 15.6.2005)

 

Greve

O trabalho muito,

o salário pouco,

a angústia longa,

a esperança curta.

O operário parou.

A máquina, solidária, calou-se.

Os ônibus pararam,

as escolas pararam,

os hospitais pararam,

os aviões deixaram de voar

e quase tudo entregou-se à inércia.

Só a vida continuou seu eterno movimento,

recusando-se aderir à greve.

 

(Beirute, 28.5.1979)