O FANATISMO E SUAS TRÁGICAS CONSEQUÊNCIAS
“Quando o fanatismo gangrenou o cérebro, a enfermidade é quase incurável.” (Voltaire)
É da natureza humana ser, sentir e pensar diferente. Sempre foi e será assim. São as diferenças que somadas, agregadas, montam o quebra-cabeças da Civilização. São elas que, separadas e na pluralidade das cores, notas, formas e filosofias, revelam os gênios da Música, da Pintura, da Escultura, do Pensamento, da Poesia, de todas as áreas de criação. São elas, que somadas, tecem o Universo.
Lamentavelmente, é também da natureza humana a incapacidade – muitas vezes – de aceitar ideias e comportamentos não afinados com este ou aquele modelo entre tantos, ainda que tais comportamentos e ideias sejam de direito absoluto daqueles que os adotam, sem prejuízo dos que assim não escolhem pensar ou agir.
A necessidade mórbida de sentir-se superior, melhor ou mais forte denuncia, em verdade, complexos de inferioridade, insegurança e fraqueza no ser humano que se permite senti-la. A volúpia do poder, da dominação sobre o outro, leva-o a utilizar suas escolhas políticas e/ou religiosas para alcançar seus nefastos objetivos. Por isso e por tão pouco, inúmeras guerras, genocídios e fraticídios têm marcado a história do homem sobre a superfície deste planeta tão pequeno, tão maravilhoso, tão único.
Hoje, o exemplo mais terrível das devastadoras consequências do fanatismo revela-se nas atitudes desvairadas dos seguidores do chamado “Estado Islâmico”, cuja diabólica liderança declara pretender dominar não só as regiões da Síria e Iraque já sob seu controle, mas todo o planeta! E para os “infiéis” que não aceitarem seu deus, suas regras, seu governo, o destino é a morte por assassinato! Afinal, os que deles discordam, “não são filhos de deus”. O deles.
No Brasil, sementes de extremismos políticos e religiosos têm proliferado de forma assustadora. Nos corredores e palcos da República, adeptos de crenças religiosas e de ideologias políticas antidemocráticas tramam e buscam transformar em leis e regras para todos, os ditames que interessam apenas às suas religiões e partidos. Isto configura verdadeiro atentado contra os princípios constitucionais da laicidade e independência do Estado, base da coexistência pacífica e ordeira entre cidadãos de quaisquer convicções.
A liberdade de todos estará inexoravelmente ameaçada quando a liberdade de alguns for tolhida por capricho de outros e pela omissão dos demais. É fundamental não permitir que o fanatismo cresça e espalhe seu veneno, ódio, egoísmo, orgulho, gangrena filosófica! Para tanto, é preciso resistir aos fanáticos, praticar a tolerância e transmitir a sabedoria de aceitar, nos outros, as diferenças. Senão, faremos do Brasil campo fértil para ditaduras religiosas ou políticas, berço de barbáries. Que Deus nos livre de tal destino!
M. deValença, 25 de março de 2015.
A PEDRA FILOSOFAL
Na estória ouvida há mais de quarenta anos, um homem que buscava a Pedra Mágica - que tudo transformaria em ouro, ao seu toque - a teve nas mãos e, sem se dar conta disso, a jogou fora, cego que se tornara pela obsessão em achá-la.
Ouvi e guardei bem a lição ensinada. Na busca dos meus sonhos, nos caminhos - tantos - que percorri desde então, tomei cuidado para que o mesmo não acontecesse comigo. Coração e mente atentos permitiram-me descobrir e guardar, com zelo, este verdadeiro tesouro.
Cada pessoa busca na Vida a riqueza que acredita a fará feliz. Para uns, a Fortuna está no ouro, dinheiro, posses. Outros parecem crer que o Poder e a Fama transformarão para sempre suas existências em sonhos dourados.
Há, finalmente, os que garimpam nos livros e nas pessoas o Conhecimento e a Compreensão, seguros de que só não se pode perder o que não se pode tocar.
Em verdade, a cada um cabe sua Pedra Filosofal, já que a Felicidade é a de cada um. A minha, eu a descubro, a cada momento, no garimpo de mim mesmo, das pessoas e dos livros, aprendendo com suas histórias, estórias e experiências, compreendendo, finalmente, que cada instante, encontro, sorriso ou lágrima guarda, em si, uma centelha da Pedra Mágica.
A Consciência de que cada momento da Vida traz consigo a possibilidade de nos fazer felizes, dependendo de como seja tocado por nossos corações e mentes, esta é a "minha" Pedra Filosofal.
(Barcelona, 1.6.2003)