Chico
Chico é um sujeito manso de coração.
É de Xavier por acaso, pois qualquer sobrenome lhe assentaria,
já que a todos quer como irmãos.
Chico é tão manso que há quem diga que tem parte com o diabo,
só porque os anjos gostam de conversar com ele.
Chico é pobre, Chico é rico, Chico é dono dele mesmo.
Um dia, fui visitá-lo. Senti-me nu, vestido da realidade que incomoda.
Disse-me o que eu queria saber e que não perguntara;
deu-me um abraço de paz e sua voz tinha perfume de flores.
Se o Chico tem coisas com o diabo,
eu quero ir para o inferno, pois lá é que deve ser bom,
cheio de gente como ele, gente mansa de coração!
(Dacca, Bangladesh, 31.8.1976)
Impertinente
Caminhar,
caminhar,
caminhar,
caminhar!
Será busca?
Busca de busca somente
ou existirá desejo de prêmio ao atleta poeta
que resistir à grande caminhada?
Sossega, coração.
Não me torture com perguntas
que ainda não me ensinei a responder
nem me tire a atenção da busca.
Busca de quê?
(Dacca, Bangladesh, 9.9.1976)