Velho Amigo
Sentado ao teu lado, amanhecendo iguais
esta manhã verde, com cheiro de chuva noturna
e plena de passarinhos, sou teu Amigo.
Eu te vejo triste e nossa tristeza
tem cabelos brancos de quem viveu muito,
olhos cansados de quem muito viu
e calça chinelos que se arrastam, ritmados,
pela varanda.
Eu te vejo ausente e a nossa ausência
terá cheiro de cigarro de palha,
gosto de bons vinhos e o nosso rosto triste.
Estaremos juntos, meu Pai,
até mesmo depois de tudo.
(Marquês de Valença-RJ, 26.01.1981)
Razões para mudar, ou não.
Que eu mude de idéias, quando necessário,
sem jamais, trair meus Ideais;
de caminhos, sem trocar de Companheiros de Viagem;
de perspectivas, sem perder de vista meu Objetivo.
Que eu mude de cidades, sem esquecer do berço;
de coisas e até de causas mas, nunca
dos sonhos ainda não realizados.
Que eu mude de amantes, sem jamais mudar de Amor.
Que eu faça novas amizades, sem perder os velhos Amigos.
Que toda e qualquer mudança seja em mim, por crescimento
e, nunca, por esquecimento do que aprendi, senti, amei.
Pois o que muda por só mudar, morre, a cada momento,
por não viver o bastante. Apenas parece viver,
por não ter, ainda, morrido o suficiente.
(Barcelona, 30.08.2004)