CASTRO ALVES

Jovem condor que voaste

com asas de inspiração,

dos céus do Brasil lavaste

a mancha da escravidão!

 

Foram teus versos ousados

mais fortes que mil canhões,

canções dos escravizados,

Sol derretendo grilhões!

 

Poeta da Mocidade,

louvaste o Amor, a Beleza,

o Ideal da Liberdade,

o vigor da Natureza!

 

Os teus lábios derramaram,

quais vulcões incandescentes,

mensagens que transformaram

idéias, conceitos, gentes.

 

As chamas de tal poder

consumiram-te, no entanto

e, ainda ao amanhecer,

pôs-se o Sol, calou-se o canto!

 

Mas os séculos, os mares,

as Áfricas, cachoeiras,

hão de entoar teus cantares

através eras inteiras!

 

Descansa, Eterno Poeta,

Falará por ti teu verso!

Ele há de ser profeta

a lembrar-te no universo!

 

(Dacca, Bangladesh, 27.5.1976)

 

Atenas

Os deuses estão soltos!

Desceram do Olimpo e vivem nas ruas de Atenas,

nas suas praças e colinas!

Zeus, complacente, a tudo observa do alto da Acrópole.

Afrodite cedeu aos encantos de Pan,

calçou a sandália e passeiam apaixonados beijos

pela Syntagma ensolarada!

As Musas, eufóricas, inventam músicos, poetas e pintores,

de muitas nacionalidades!

Apolos desconhecidos cavalgam velozes motos douradas,

enquanto deusas adolescentes brincam, púberes, de amor,

nos jardins esculpidos em flores!

Dionísio rega os corações de vinho

e Eros cria amores circunstanciais!

Atenas, Atenas, que será de ti

se os deuses te abandonarem?

Que tristes seriam as ruínas do espírito...

 

(Atenas, 15.5.1979)