Em Silêncio

Cale-se, para que eu o conheça!

Não serão suas palavras que me ensinarão seus mistérios,

nem seu discurso, ainda que brilhante,

me enriquecerá de você.

Será o seu silêncio e nada mais, que me permitirá ouvir

os menores anseios de seu coração,

os pensamentos mais valiosos e profundos

sobre os quais se ergue sua mente.

Virá em silêncio a certeza,

e se debruçará nos seus e meus olhos,

de que nós dois nos amamos.

 

(Dacca, Bangladesh, 16.6.1977)

 

Em Tudo, a Poesia

A Poesia?

Eu a encontrei no choro de um recém nascido,

no frescor de pétala de um adolescente,

no abraço forte de um adulto,

na doçura do olhar de um velho;

eu a ouvi no silêncio imóvel de uma pedra, seixo negro do Ganges

e no delírio sonoro do estádio entregue ao êxtase de um gol;

eu a toquei no chão áspero do cerrado

e no branco azulado de neves macias;

eu a bebi alegre num copo entre amigos

e, muitas vezes só, amarguei seu sabor;

eu a vi caminhar no recolhimento de uma capela

e, frenética, dançar nos palcos dos cabarés;

florir na fina porcelana de mãos dadas ao acaso

e incendiar florestas no encontro de corpos!

A Poesia?

Eu a encontrei no berço, na estrada, na cama, no túmulo.

 

(Beirute, 7.8.1979)