A LÍNGUA BRASILEIRA

Que língua, falamos no Brasil? Português, como nos dizem os acadêmicos, nos ensinam nossos livros? Ou uma outra, ainda sem nome próprio?

Em sua terra, os portugueses acreditam e afirmam que a língua falada no Brasil é o “brasileiro”, percebendo claramente as diferenças que existem entre a deles e a nossa.

Na rede internacional de comunicações, a “internet”, as relações de línguas à disposição dos internautas incluem as opções: “português (Portugal)" e “português (Brasil)". Por que seria? O que é necessário para que uma língua, derivada de outra, tenha outro nome? Que diferenças deverão existir? 

Da mesma forma que o latim vulgar, espalhando-se pela península ibérica, incorporando as línguas ali pré-existentes e passando por transformações de forma e conteúdo recebeu novos nomes – português e espanhol - deveria acontecer o mesmo com o nome da língua dos colonizadores lusitanos no Brasil?

Novos fonemas, inúmeras palavras de origem indígena, as das línguas dos emigrantes de toda parte do mundo e ainda as criadas com o passar dos séculos, sem contar os significados diferentes para vocábulos comuns, tudo isso diferencia – e muito – a língua falada em nosso país daquela falada em Portugal.

As mesmas forças que geram uma língua, geram uma literatura. Vale lembrar a existência das Literaturas Brasileira e Portuguesa.

Talvez por um saudosismo sem justificativa, complexo de inferioridade deixado pela herança colonial e, ou apenas falta de iniciativa de nossos intelectuais, continuamos a repetir, sem eco nas ruas de Portugal e do resto do mundo, que falamos o “português”.

Em meu caso, não mais. Já desde há algum tempo, tenho insistido que a nossa língua deveria ter seu próprio nome: o brasileiro. É a língua que aprendi, desde o berço, em que penso, escrevo e falo.

 

(Barcelona, 19.3.2005)

 

 

UM LIVRO QUE NASCE

Acabo de assistir à apresentação, no “Museo Maritimo de las Reales Atarazanas de Barcelona”,  do livro “La Academia de Matemáticas de Barcelona, El Legado de los Ingenieros Militares”, convidado por um de seus autores, Manuel Nóvoa Rodríguez.

Na Sala onde se realizou o evento - um imenso salão de belos e altos arcos de pedra -  as muitas pessoas compartiam a alegria de ver surgir um livro.

Ao final dos discursos e retornando à casa, meditei sobre a beleza de se comemorar o parto de um livro. Acima de tudo porque um livro que nasce é como a chama que se acende, um lume com poder de gerar inúmeras outras fontes de luz e calor nos espíritos humanos por ele tocados.

Os livros têm poder da eternidade, se o espírito que os anima, as idéias que representam forem dignas de tal poder. É sempre revolucionário pois, lido, modificará, de uma forma ou de outra, para melhor ou pior, o destino de seu leitor. Devem  por isso as palavras - o corpo físico do livro – e as idéias, seu corpo transcendental, serem meritórias de seu destino, de sua missão: fazer os homens mais livres da ignorância, dos preconceitos, da estupidez.

Um livro pode ser escrito, ou não. Há os que moram dentro das pessoas, que são as pessoas onde eles moram. A leitura destes últimos nos enriquece a vida, às vezes ainda mais do que os outros, apenas escritos. Ambos, no entanto, devem ser cultivados pelos que sabem que se a palavra é o silêncio revelado, o silêncio é a palavra que pensa.

 

(Barcelona, 17.3.2005)