ZÉ DA SILVA, O FALSO VERDUREIRO.

O PT, como pregavam seus zelosos missionários  durante décadas, mudou o País, após chegar ao poder! Pelo menos para alguns “da Silva” e para vinte e cinco mil escolhidos para os “cargos de confiança” dos poderosos...

O companheiro maior, Luiz Inácio Lula da Silva, ex-pau-de-arara, ex-operário, ex-torneiro mecânico, ex-sindicalista, ex-candidato eterno à presidência, ex-ex, tornou-se Presidente da República, ganhou um avião novo e deslumbrou-se com o mundo e com as festas de quadrilha na Granja do Torto! E bota torto nisso! Não sabe de nada, não viu nada, não ouviu nada, não fala nada. Um santo... 

Um filho do companheiro maior, Fábio Luis Lula  da Silva, ex-cidadão comum em árdua busca de ascensão profissional, transformou-se no último ano, sem gastar um tostão (de seu bolso) em sócio de milionárias firmas de informática e propaganda! Um sucesso! Não é que a Telemar, sem saber que se tratava de filho do grande companheiro, resolveu – assim, de repente - investir milhões de reais nas tais firmas!? Um sortudo! Os deuses favorecem os filhos do poder! E o poder aumenta as tarifas telefônicas, pagas pelo povo.

O  ex-"primeiro ministro" do companheiro maior,  deputado federal José Dirceu da Silva, ex-estudante, ex-guerrilheiro, ex-ilado na ilha do vitalício barbudo-mor, regeu – nos últimos anos – a orquestra petista e teria, segundo a imprensa, se dedicado (com a a assistência de seus associados petistas José Genoíno da Silva, Delubio Soares e Silvio Pereira) a colocar nos 25 mil “cargos de confiança” regiamente pagos pelo povão, as pessoas certas, adequadas, de sua confiança... Quando se descobriu que a ópera em cartaz era de malandros (lamento, Chico!) foi devolvido ao Congresso, onde aguarda o julgamento de seus pares... Não sabe de nada, não viu nada, não ouviu nada, não fala nada. Um injustiçado...

Um dos “confiáveis” instrumentistas do regente, o Waldomiro Diniz da Silva, ex-vendedor ambulante e agora grande proprietário de terras e ecológico amante dos bichos e cachoeiras foi pego, apesar de macaco velho, com a mão na cumbuca e teve, o pobrezinho, que ser afastado dos  palácios do poder, dos holofotes da imprensa... Outro injustiçado!

O Senador eleito pelo Partido Liberal (PL), Ministro da Defesa e Vice-Presidente da República José Alencar Gomes da Silva vê parlamentares de sua agremiação política serem acusados de beneficiários da ópera bufa "Il Mensalone"! O liberalismo de co-partidários, levado às últimas conseqüências, transformou-se em libertinagem financeira. Não sabe de nada, não viu nada, não ouviu nada, não fala nada. Os mineiros são assim, rimam sempre com Alkmin...

O ex-Ministro da Segurança Alimentar e do Combate à Fome, José Graziano da Silva, autor do programa petista "Fome Zero", foi substituído, por inanição endêmica dos resultados, pelo atual Ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Gesto inútil pois a fome persiste, indiferente aos "factóides" do poder e revigorada pela corrupção que devora os recursos disponíveis para combatê-la.

A ex-empregada doméstica, líder petista em seu Amazonas natal e atual Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, assiste horrorizada e incapaz de evitá-la, à progressiva destruição da floresta amazônica promovida por madeireiras que corrompem e por autoridades corrompidas.

A ex-Ministra da Assistência e Promoção Social, Benedita da Silva, dos quadros do PT, ex-vereadora no Rio de Janeiro, ex-vice-governadora do Estado do Rio, ex-deputada federal, ex-senadora, caiu dos galhos do poder por ter sido denunciada na imprensa ao utilizar recursos públicos para sua própria assistência e promoção social. Na ocasião, o já então presidente nacional do PT, José Genoino da Silva, insistia para que a ministra devolvesse o dinheiro gasto (com viagem a Argentina), exclamando, ultrajado e zelote: "Em nome de sua história política e do PT, Benedita precisa corrigir a falha devolvendo aos cofres públicos os recursos usados!" Grande conselho, presidente, grande conselho!

O ex-presidente do PT, José Genoino da Silva, ex-guerrilheiro, ex-deputado federal mais votado no Brasil, ex-simples mortal, dedicou-se a assinar, sem ver o que fazia, empréstimos de milhões de reais para seu partido e preparados por um tal Marcos Valério, instrumentista-chefe do “mensalão” e operador multibilionário! Imagine, se alguém tem que se preocupar em saber que assina essas coisas... Obrigado a deixar a presidência do PT, diz, com olhos marejados, que vai “cuidar de sua sobrevivência”. Que injustiça! Outro santo... do pau oco!

Seu irmão, José Nobre da Silva, deputado petista  no Ceará, acaba de ser surpreendido com a notícia da prisão de um de seus assessores, em aeroporto paulista, com centenas de inexplicáveis milhares de reais em mala e cem mil dólares... na cueca! Ia para Fortaleza... Imediatamente, indignado e chocado, demitiu seu assessor! Apesar de muitos anos de convivência,  não conhecia  os dotes do  “companheiro”... Mais um traído!

O ex-assessor José Adalberto Vieira da Silva, secretário do PT no Ceará, onde coordenou a campanha presidencial do grande companheiro em 2002, apesar das explicações dadas à Polícia Federal de que a fortuna que carregava consigo era “fruto da venda de verduras” (quem sabe por isso confundindo os atônitos policiais) está preso.  Pobre "verdureiro” do PT... Só porque trafegava com as “verdinhas”... Outra vítima dos reacionários!

Há mais coisas no ar do planalto do que pode imaginar nossa vã filosofia. E exalam catinga.

 

(Barcelona, 10.7.2005)

 

BRAVO, ESPANHA!

Casam-se cartas, cores se casam, casam-se idéias, a velhice à juventude, objetivos de amigos e tanto mais, além de um homem e uma mulher. Casar significa combinar, aliar-se, adaptar-se, condizer, harmonizar-se, juntar, unir, associar-se, ligar, dizem os dicionários. O casamento não é nem nunca foi, portanto, exclusivo direito de dois seres humanos de sexos biológicos diferentes. Trata-se apenas, por definição e sentido, por opção ou fato, da união harmoniosa de duas ou mais pessoas ou coisas, intangíveis ou não. As conotações religiosas, diferentes entre si, respondem apenas pelo sentido religioso e não sócio-legal da palavra. Por sabedoria, em muitos países, se estabeleceu a separação entre  o Estado e a religião.

A Espanha, seu governo e legisladores estão de parabéns, por terem transformado em lei o que sempre fora um direito: o casamento entre duas pessoas do mesmo sexo. Enfrentaram minoria ruidosa mas com antigo poder e desfecharam golpe de morte no odioso preconceito contra os homossexuais. O Presidente do Governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero afirmou, antes da votação: “Trata-se de uma pequena mudança na letra que traz uma mudança imensa na vida de milhares de compatriotas. Não estamos legislando para gentes remotas e estranhas, mas ampliando as oportunidades de felicidade para nossos companheiros de trabalho, para nossos vizinhos, para nossos amigos, e estamos fazendo um país mais decente. Com a nova lei, não há agressão alguma ao matrimônio nem à família.” Junta-se a Espanha à Bélgica, Holanda e Canadá no reconhecimento do que é direito e justo.

Os preconceituosos alegam, sem justiça ou razão, que o fato  “ameaça a família e anuncia a destruição do casamento” tal como eles entendem. Por mais que se tente buscar um fiapo de sentido em tais temores, não se consegue chegar à mesma conclusão. Afinal, por que a felicidade e a harmonia de um casal do mesmo sexo biológico iria “destruir” o matrimônio e a família de um outro, de sexos diferentes? A orientação sexual de uma pessoa não pode, nunca, ser um “problema sexual” para outra. Quem pensa o contrário tem, quem sabe, problemas com sua própria orientação sexual. Ou padece, apenas, da doença do preconceito.

Infelizmente, a Família vem desmoronando há várias décadas, por outros motivos, se diga. A revolução industrial pariu o consumismo, criando necessidades onde não as havia e conseqüentes tensões, que antes não existiam. A mulher,  mãe, dona de casa e principal educadora dos filhos, deixou o lar e entrou no insaciável mercado de trabalho onde iria  competir com seu marido. As relações do casal  se complicaram, as separações e os divórcios se tornaram moeda comum e a educação dos filhos foi para o brejo. O “casamento heterossexual” há muito está em crise. A família, também. E não se pode culpar o futuro por fatos passados.  

A lei espanhola, ao determinar que “o matrimônio terá os mesmos requisitos e efeitos quando ambos contraentes sejam do mesmo ou diferente sexo”, estende ainda o direito de adoção aos casais homossexuais. Nova onda de incompreensão, por parte dos preconceituosos, que dizem temer pela “adequada formação” das crianças assim adotadas.

De novo, a análise de tais medos não resulta em concordância. Afinal, se a sexualidade (assumida mas não necessariamente havida)  dos pais heterossexuais  determinasse a dos filhos, não existiriam homossexuais no mundo. Noves fora, nada. O que vai determinar a boa formação de uma criança é o Caráter de quem a educar. E Caráter não rima nem é sinônimo de sexualidade, homo ou hetero.  Além do mais,  quase todas as crianças que aguardam a oportunidade de serem adotadas foram, em algum momento de suas vidas, vítimas de criminoso abandono por parte de seus pais biólogicos, em princípio "heterossexuais”. Leve-se em conta ainda que se os orfanatos do mundo inteiro estão cheios de crianças é porque os casais heterossexuais, tão mais numerosos que os homossexuais e, até agora, os únicos autorizados legalmente a oferecer um lar àquelas crianças, não o fizeram. Tais temores são, portanto, infundados e pouco recomendáveis por serem eivados da mais cínica hipocrisia.

Fala-se muito, nos meios preconceituosos, da “promiscuidade” dos homossexuais e “as conseqüências desastrosas para seus casamentos”. Que conseqüências? Separações, divórcios? Seria a promiscuidade sinônimo de homossexualidade? Não, não é. Os animais, entre eles os humanos, são geral e instintivamente promíscuos e buscam com isso aumentar  as chances de perpetuar sua própria herança genética ou, pelo menos, sentir prazer. Razões culturais – e não somente entre os humanos – criaram a bela idéia da fidelidade do casal.É de se esperar  que ocorra infidelidade entre casais do mesmo sexo biológico. Não será, entretanto, em maior número do que entre seus congêneres heterossexuais. 

Além disso, o preconceito é o principal motivo da promiscuidade entre homossexuais que, por não poderem assumir uma relação estável com seus parceiros ou parceiras – o que os deixaria expostos ao linchamento dos preconceituosos – buscam satisfazer seus desejos naturais com diferentes pessoas, desconhecidas às vezes. Com o reconhecimento legal de sua união, a promiscuidade diminuirá e há de trazer, como grata conseqüência, a diminuição do contágio de doenças sexualmente transmissíveis, entre as quais a aids. Trará, finalmente, a merecida e devida felicidade dos outros, até então diferentes nos direitos mas iguais nos deveres.

Que o belo exemplo da Espanha seja seguido por todos os outros países!

 

(Barcelona, 3.7.2005)