OS JOVENS E A IMPUNIDADE
Além de ter direito à melhor educação em casa e na escola, o jovem precisa ser protegido da sedução do crime, para o qual é atraído por criminosos adultos, que o convencem com o argumento fácil de que não pode ser penalizado.
A certeza de que pode e será punido se cometer um crime fará, na maioria das vezes, com que se recuse a participar de atos criminosos.
A impunidade não protege, pelo contrário empurra a juventude para os braços enganosos e destruidores da criminalidade. O jovem deveria, a partir dos 14 anos, ser responsabilizado por seus atos e, se condenado, dispor de presídios especiais para sua faixa etária. O Estatuto da Criança e do Adolescente, tal como está, é um verdadeiro crime contra os adolescentes e as crianças.
A terrível cultura da impunidade que prevalece em nosso país é também responsável pela deformação das mentes de nossos jovens. Quando tivermos a coragem e a sabedoria de instituir e aplicar penas mais rigorosas (de morte e prisão perpétua) para os adultos que cometem os crimes que nos aterrorizam no dia a dia, quando construirmos mais presídios ao invés de esvaziarmos os existentes com demagógicas solturas de criminosos, estaremos dando à juventude exemplos positivos e orientação segura que servirão de guia em sua vida.
Caso contrário, mergulharemos cada vez mais no abismo e caos em que nos encontramos.
(Bangkok, 30.10.1999)
O ESPÍRITO MORREU?
Que inventamos uma sociedade onde o consumo deixou de ser meio para ser fim, não se discute mais. Que o materialismo disso resultante e todas suas perversas conseqüências solaparam as frágeis bases do espiritualismo no homem, também não. Mas tudo tem limite!
Até quanto vamos assistir impassíveis ao apodrecimento progressivo dos valores duramente descobertos e cultivados em milênios de lenta e dolorosa evolução?
Houve tempo em que até mesmo os mais convictos ateus davam graças a Deus aqui e ali em suas vidas. Não mais. As religiões, cultos e seitas se multiplicam. Afinal, sempre foram um bom negócio, um grande e lucrativo negócio e, enquanto instituições, não fariam grande falta à humanidade. O que está em extinção, desgraçadamente, é a religiosidade, o espírito religioso, a consciência do tempo sagrado que cada um carrega dentro de si.
Isto se reflete, com grandes prejuízos, em tudo: nas relações humanas, na arte, na ciência, na política, no dia a dia de cada um e de todos, nas pequenas e grandes comunidades.
O que assusta, e com razão, é o fato de que cada vez mais, menos pessoas se rebelam, contestam, reclamam quando os adoradores do bezerro de ouro do materialismo regurgitam seus cantos horrorosos, suas obras capengas, seus textos sem sentido, tudo bem dourado contudo, como se fosse ouro... O rebanho dos homens vai ficando cada vez mais quietinho, marchando resignadamente para o abatedouro do espírito.
Recentemente, decretaram que a alma dos animais passou a ser supérflua, senão inconveniente. Construíram em metal um robô-cachorro e, no altar do tal bezerro, puseram-no à venda como "o animal de estimação nos tempos modernos"! O que aconteceu? Uma correria de eunucos espirituais para comprar a novidade! Mas como?! Se a coisa não passa de uma coisa, sem "anima", como pode ser animal!? Como e por que ter afeto por um pedaço de metal com um programinha de computador que o faz apenas mover-se desajeitadamente? Recuso-me! E ainda fico ofendido pelo imenso carinho que ofereço e recebo de Mon Ami e Lady, cachorros meus amigos.
Mas não fica por aí, o absurdo! Nos últimos anos os cientistas têm desenvolvido a técnica da clonagem de animais. Não é que governos, pensadores e nem tanto têm ocupado jornais e revistas para discutir, com a maior seriedade, "os aspectos terríveis e perigosos do emprego daquela tecnologia para clonagem de seres humanos", alegando que "criminosos poderiam mandar fazer cópias deles mesmos"?
O terror - por outros motivos, justificados - que tomou conta da intelligentsia planetária se deve ao fato de partir da premissa - errada, ao meu ver - de que o homem seria o corpo que usa, este sim duplicável. Mas o homem não é o corpo que usa e sim o que usa o corpo. A alma é individual, única e eterna, residindo aí a grandeza da vida.
Podem "clonar" feios e bonitos, maus e bons, fortes e fracos. Os corpos resultantes serão muito parecidos (nem iguais serão) com suas matrizes. Mas eles serão todos diferentes no que de verdade importa: o caráter e personalidade.
Há, em minha opinião, duas restrições a serem feitas à clonagem de qualquer animal, humano ou não: primeira, a diversidade biogenética é, a longo prazo, fundamental para a sobrevivência e aprimoramento dos invólucros físicos das espécies; segunda, seria muito sem graça ter que conviver com dois ou vinte animais, humanos ou não, com a mesma cara, o mesmo corpo.
O que me assusta, acima de tudo, é o fato de não ter ouvido nenhuma voz de peso lembrar que se o materialismo matou o Espírito, este vai muito bem, obrigado. O que me consola? Que minha ignorância me ensurdece, às vezes.
(Bangkok, 22.9.2000)