Inshallah!

Assim como as estrelas, noite após noite,

iluminam o palco universal para o cósmico balé,

ninando os filhos dos deuses com tão inaudíveis quanto belas canções;

assim como a putrefata folha, caída aos pés do arbusto,

se desintegra para a formação de novos arbustos, folhas, flores;

assim como o navio tem seu porto, a onda sua praia, o rio sua foz,

e essas coisas não significam começo ou fim;

assim como a Natureza, eu preciso, eu devo, eu vou encontrar a Harmonia,

ao descobrir meu lugar no mundo que me cerca,

ao entender a razão de minha existência,

ao sentir-me pedra na pedreira,

água no riacho,

brisa no espaço,

 terra na trilha,

mosca no esterco,

pássaro em vôo,

chuva caindo,

som na tormenta,

silêncio na quietude,

e serei feliz, por ser assim!

Eu o farei, inshallah!

 

(Dacca, Bangladesh, 1.8.1975)

 

Medo

Agora estou só, numa terra estranha.

Meus amigos estão  há nove horas no passado

e continentes nos separam.

Assim será por um longo tempo que, espero,

não os mude nem a mim mas que me enriqueça e a eles,

de experiências e ensinamentos.

 

Que o reencontro, quando seja,

seja belo e suave como o pôr do sol,

ainda que fulgurante como seu nascer.

Que eu não me sinta estranho em minha própria terra,

no regresso dessa viagem ao futuro,

pois preferiria ter morrido só, numa terra estranha.

 

(Dacca, Bangladesh, 3.6.1975)