TELHADO DE VIDRO

Já conhecia, em bons versos, a magia da idéia de se perdoar alguém a quem se traiu! Sempre o maravilhoso Chico! Cínico mas romântico.

Em seu último comício, o presidente da República inova e, depois de acusar desconhecidos de o terem traído, pede perdão! Mas como!? Se foi traído, por que deveria pedi-lo? Longe da poesia de Chico, a realidade impõe ao traidor e a este somente, o dever de pedir perdão. A menos que sua excelência saiba mais do que diz ou tenha feito mais do que reconhece...

Em tom ufanoso, insiste que perdeu três eleições antes de “ganhar a última”. Foi mesmo ganha ou, como tudo indica, comprada por seu partido com os milhões surrupiados do Povo e outros adiantados por empresários também sem escrúpulos?

Glorifica-se, como é de seu hábito e informa que “em 1980 decidiu criar um partido novo que viesse para mudar as práticas políticas, moralizá-las e tornar cada vez mais limpa a disputa eleitoral em nosso país”. Barbaridade! Que hora para lembrar de tais intenções! Na primeira chance de por em prática tão elevados ideais, empurrou o Brasil para o atoleiro de corrupção petista.

Bravateia que seu (?) governo teria criado “3 milhões de empregos nos últimos 30 meses para a gente humilde da nossa terra”. Pena que muitos milhares de jovens brasileiros – a exemplo do Jean Charles, assassinado pela polícia londrina – não soubessem disso e tivessem que deixar o País nos últimos 30 meses, desencantados, desiludidos, sem esperança, em busca do tal emprego.

Insinua que a carroça foi para o brejo mas não dá nome aos bois nem ao carroceiro. Faz falta não... Até o Joãozinho já sabe. Francamente, se é para dizer nada, por que falar?

O PT, que durante décadas dedicou-se a quebrar telhados alheios, não sabe o que fazer com os cacos a que viu reduzido o seu. Se não limparem o chão do partido, vão machucar os pezinhos... Depois, se feita a faxina, seria bom criar um partido novo que viesse para mudar as práticas políticas, moralizá-las e tornar cada vez mais limpa a disputa eleitoral em nosso País.

 

(Barcelona, 14.8.2005)

 

“AFASTA DE MIM ESTE CÁLICE”

Está ficando cada vez mais difícil pensar e escrever sobre a crise política em nosso país, sem vomitar ou recorrer às obscenidades. A nudez dos fatos tem revelado o corpo ulcerado, fétido e pestilento do governo e do congresso. Fechar os olhos para não ver tamanha podridão não é, no entanto, alternativa. Seria o suicídio da cidadania, puro e simples. E há que evitá-lo, custe o que custar, em defesa do futuro, presente dos nossos netos.

Talvez por ser gato escaldado (tinha sido ludibriado por Collor e, descoberta sua quadrilha, seu opositor explícito) não caí, em 2002, nas esparrelas do PT e de seu arauto, o incrível Luiz Inácio e seu apelido. Sentia, no populismo desavergonhado com que seduzia os incautos, o aviso das tormentas que, finalmente, aconteceriam. Só falta o de agora repetir, como aquele: “não me deixe só, minha gente!” Que nojo!

Quando o presidente Fernando Henrique Cardoso declarou, pouco antes das eleições que “não tivesse seu partido (o PSDB) candidato escolhido, votaria no” atual presidente, todos – inclusive ele – já sentiam o cheiro das urnas. Leitor confesso de Maquiavel e de seu “Príncipe” (elogio do puxa-saquismo, manual de hipocrisia, breviário dos que acreditam que os fins sempre justificam os meios), o então presidente tentava dar uma arrumadinha na cama na qual, quem sabe, pudesse vir a dormir... Ele e seu governo decadente foram os grandes eleitores do PT.

A maioria dos eleitores do atual mandarim acreditou, acima de tudo e com todo direito, nas promessas de reforma ética, de combate à corrupção, na esperança de dias melhores. Foram traídos e, todos nós,  prejudicados. Os intelectuais e artistas que apoiaram e, com seu prestígio e carisma,  cabalaram inúmeros votos para o candidato do PT, deveriam vir novamente a público e denunciar a assumida incompetência e corrupção do atual governo. Devem isso aos seus leitores e fãs. Devem a si mesmos e ao País.

(Barcelona, 7.8.2005)