O CORDEL DO MENSALÃO

Quem rouba do Povo, tira

Muito mais do que dinheiro!

Não é homem, é de mentira,

É raposa em galinheiro!

Seja ele deputado,

Senador ou presidente,

Se roubou, é um desgraçado,

Não merece ser da gente!

 

Que se aprenda bem, tomara,

A escolher um candidato,

Com vergonha em sua cara,

Que não seja como um rato!

A turma do mensalão

Merece mesmo é cadeia,

Lugar de todo ladrão,

Inda mais com a burra cheia!

 

Um diz que nunca viu nada

Da tremenda roubalheira,

Apesar da canalhada

Ser a sua conselheira!

Outro diz, se defendendo,

Que “apenas cumpria ordem”;

Essa história está fedendo,

Nunca vi tanta desordem!

 

Outro mais põe na cueca

Um montão das tais “verdinhas”!

Pra polícia diz: “merreca,

fiz vendendo verdurinhas”!

Não bastasse, o Severino

Vem com a idéia do “acordão”!

Isso é coisa de ladino

Querendo salvar ladrão!

 

Antes que me caia o teto,

Lembro da pior lorota:

Filho de analfabeto

Nunca tira, só que bota!

 

(Barcelona, 30.7.2005)

 

A SOLIDÃO

Um dos sentimentos mais primitivos, mais arraigados na alma, é o medo de estar só, de sentir-se abandonado, isolado, esquecido pelos seres queridos. Terá a ver, em parte e com certeza, com o medo da morte e a idéia do desconhecido que ela encerra.

Talvez por isso seja tão importante compreender, conhecer, aprender a conviver com o fato de que, vez por outra, por curtos ou longos períodos, somos obrigados a receber a visita da solidão.

É preciso reconhecer, ademais, os benefícios que ela pode trazer para o amadurecimento de quem a sente. Afinal, é o espaço e tempo ideal para se estar com a pessoa mais importante em nossas vidas: nós mesmos.

Se alguém não é capaz de conviver consigo mesmo, será muito menos capaz de conviver com outros. A imensa dificuldade de aceitar o encontro com a própria alma e suas imperfeições explica, muitas vezes, o medo da solidão. No entanto, sem esse encontro, não nos conhecemos de verdade. E sem que eu me conheça, quem há de me conhecer?

A solidão não deve servir nunca de pretexto para exigir a presença de quem  gostamos. Deve ser, isso sim, uma oportunidade para quem gosta da gente nos visitar.

Ela é o momento apropriado para  cultivar, em nossos corações, a beleza dos sentimentos. São eles que atrairão, como o néctar da flor atrai os colibris, os verdadeiros amigos.

E até quando eles não venham, será sempre da flor a felicidade de saber-se pronta para eles.

 

(Barcelona, 24.7.2005)