A CASA DO INÁCIO
Moço, onde é que fica esse lugar? À pergunta antiga, a resposta antiga: fica na casa do Inácio, o que significava – nos meus tempos de inocência – que ficava longe, muito longe de onde devia ficar!
Afinal, quem é o tal de Inácio? Seu nome, de origem pré-indo–européia aumenta a distância de sua identidade e foi, com o tempo, associado a “ignis (fogo), ignatius”.
Há, entre os muitos assim chamados, pelo menos dois considerados santos: o de Loyola e o de Santhiá. A maioria deve ser de pessoas comuns e, uns poucos, maçãs podres na cesta.
Brasília, quando foi construída, ficava na “casa do Inácio”, afastada de tudo que existia. Com o passar das águas, ficou mais perto. O cerrado deu lugar a uma cidade que deveria ser, nos sonhos de um santo, nos projetos de um imperador, na ousadia de um presidente, o centro luminoso do País. O planalto, com sua grandeza e seus espaços, com seu horizonte no chão, deveria guardar a fonte de luz que iluminaria os caminhos do povo brasileiro.
Mas as águas passam para todos e para tudo, inclusive para os melhores e ousados sonhos e projetos. E nem sempre deixam em seu rastro, aquilo que se esperava, que se sonhava. Apesar de abrigar sua gente boa e de trabalho, a cidade se transformou num esconderijo de malfeitores, fábrica de maracutaias, celeiro de mais de trezentos picaretas, abrigo de corruptos, paraíso dos hipócritas.
Hoje Brasília não está tão longe e, por isso, não cabe dizer mais que fica na “casa do Inácio”, apesar do Inácio morar lá. Dizem até que está muito bem de vida... O Inácio, como já diziam os que sabem dele há muito, “é fogo”! Brasília, apodrecida prematuramente por seus hábitos corruptos e confusões intermináveis, hoje é conhecida como a “casa da mãe Joana” e isso não é nada bom.
Tinha razão afinal, o sábio Barão de Itararé, quando aconselhava: “Queres conhecer o Inácio? Coloca-o num palácio!”.
(Barcelona, 24.7.2005)
"ET VOILÁ, O PAI DO PT!"
Que o Presidente da República, em belo jardim parisiense, decida finalmente revelar (a uma providencial e disponível produtora brasileira de vídeos “independentes”) suas opiniões sobre a podridão na política brasileira, parece no mínimo inadequado, por lavar roupa suja fora de casa;
que a repórter não faça perguntas fundamentais e certamente muito inconvenientes ao entrevistado (como por exemplo se ele sabia e desde quando dos fatos), parece, pelo menos, muito estranho;
que afirme que depois de eleito Presidente da República não teria participado mais das reuniões do diretório de seu partido (o que não o impediria de exercer sua óbvia influência sobre as ações partidárias), parece conversa mole p’ra boi dormir;
que confesse ter o PT como a um filho, por ser um dos seus fundadores, parece pieguice política mas, enfim, compreensível, coerente e revelador, já que o bom pai sempre sabe o que o filho anda fazendo;
que, numa tentativa inútil de eximir de culpa seu partido, declare que a corrupção promovida pelo PT “é o que é feito no Brasil sistematicamente” revela o reconhecimento da gravidade da doença que assola o país, o obriga a internar-se e a todos em alguma UTI ética e parece confissão de envolvimento em crime ao menos eleitoral, o que é imputável;
que queira dar a impressão de que não tem nada a ver com o partido pelo qual se elegeu, eximindo-se da culpa dos erros de seus “companheiros”, depois de ter sido favorecido pelos votos dados ao mesmo partido, parece esperta ingratidão;
que diga que os dirigentes petistas “não sabiam o que estavam fazendo”, depois que ficaram de bumbum de fora (os mesmos que eram “grandes companheiros”, quando ainda não reveladas suas intimidades corruptoras), parece armação de bacharel incompetente;
que argumente que “não é a falha de um ou outro dirigente que vai associar o nome do partido à corrupção”, fingindo esquecer que o presidente, o secretário geral e o tesoureiro do PT já se demitiram sob a pressão do que vem sendo descoberto (sem contar o afastamento de seu Chefe da Casa Civil), parece pretensão de dar diploma de burro a cada brasileiro que aprendeu a ler, somar e pensar;
que insista que estaria “fazendo mais do já foi feito em qualquer outro momento na História do Brasil”, parece megalomania e desrespeito ao Passado;
que atribua a zelo ético de seu governo a descoberta dos inúmeros casos de corrupção identificados recentemente, parece contradizer os fatos e as tentativas mal sucedidas de impedir as necessárias averiguações;
que suas declarações viessem a coincidir com as feitas nos dias seguintes por três dos principais acusados de envolvimento no escandaloso assalto ao dinheiro público, parece altamente suspeito;
que afirme que “a direção do partido ficou fragilizada”(sic) depois de sua eleição, já que os “melhores quadros” do partido foram para o governo, com ele, parece uma confissão de incompetência pessoal e ofensa (talvez merecida) aos “quadros” que ficaram na direção do partido;
finalmente, que se apresente como defensor da Verdade parece oportuno pois assim reconhecerá, quem sabe, que são exatamente os seus “melhores quadros” do PT (José Dirceu da Silva e outros) os suspeitos de comandar, das salas ao lado da sua, a rede de corrupção que enoja o País.
(Barcelona, 19.7.2005)