A VACA FITOSA
A vaca que se faz de coitadinha está doente mas finge não saber disso. Não importa se novos focos de aftosa vão aparecendo nos campos e muito menos se o país terá por isso e somente neste ano milhões de dólares de prejuízo em suas exportações de carne. A vaca barbuda insiste, com seu sorriso falso como nota de sete irreais, que tudo está bem na vacalândia em que se tenta transformar o país!
Para tudo, a vaca chata tem uma frase mentirosa e pronta que sai fácil de sua boca como a baba da doença que a aflige. As cabeças corruptas de seu rebanho são flagradas roubando grana no pasto da Viúva? “Vocês não são corruptas, são injustiçadas”, incentiva a vaca chefe no curralácio do planalto. Organismos internacionais advertem que o Brasil afundou mais ainda na corrupção, nos últimos anos? “O Brasil está dando uma lição ao mundo!”, delira a vaca louca.
Nos currais eleitoreiros espalhados pelo país, representantes e aliados da vaca voadora (os que ainda não se deram conta da realidade) repetem suas abobrinhas irresponsáveis sem perceber, talvez, as conseqüências desastrosas para a nação.
Os bezerrinhos e bezerrinhas adolescentes, com dezesseis anos e pouco mais, são as principais vítimas do assédio e dos mugidos ilusórios da vaca guia. Desde que os adeptos da vaca deslumbrada e outros ruminantes conseguiram, em 1988, transformá-los em eleitores, têm sido usados e abusados como reprodutores e leiteiras de votos pelo partido da vaca comandante.
Para isso, a vaca iletrada os mantém bem cevados na UNI (União Nacional dos Inocentes). Nada de sopinha de letras, que poderia causar dissidências no rebanho imberbe e sobrecarga mental na vaca líder! A farta ração é de verbas públicas, de mais fácil digestão. Uma grande vacanagem!
O gado errante e berrante do MSP (Movimento dos Sem Pasto) deita e rola nos pastos alheios, financiado com capim público e certo da impunidade oferecida pela vaca líder e seu governo, com os quais comparte genes da raça belzebu.
A vaca Lhada (este é o nome da bovina criatura) faria um grande favor ao País se trocasse de lugar com o astronauta brasileiro, viajando para o espaço e lá ficasse, sem pensar em volta. Se não fosse por tudo, seria por ter pago dez milhões de dólares (da Viúva) aos russos, para adiantar passagem espacial no ano que vem, de eleições no curral. O passeio do gagárin canarinho sairia por muito menos depois de 2006, pois já estava na lista de astronautas...
Numa solução de menos palanque mas tão eficaz quanto, poderia ir pastar para sempre, com todas suas vaquinhas de presépio, na ilha distante que tanto admiram e onde quem não for vaca barbuda acaba no açougue ou vendo o sol nascer quadrado.
(Barcelona, 19.10.2005)
FRONTEIRAS DO HOMEM
A natureza humana não é somente boa. A natureza humana é também má, muito má. O pior depredador do planeta, o que mata e destrói por puro prazer, o que mais espécies eliminou definitivamente da face da Terra não é outro senão o ser humano.
A premissa, embora chocante, é indispensável para que se possa tentar encontrar defesas contra o mais perigoso inimigo do homem: ele mesmo.
Afinal, comporta-se a espécie como um primata que, sentado sobre galho alto de uma árvore, serra o galho na parte entre ele e o tronco. Além de pouco inteligente, suicida. O aquecimento da atmosfera provocado pela voraz e má utilização dos recursos naturais, já começa a dar os resultados previsíveis e assustadores.
Presunçoso, inventou uma história de que somente ele teria sido feito “à imagem e semelhança do Criador”, ignorando todas as evidências lógicas em contrário, que apontam para o conjunto da Criação. Esse gosto pela ilusão pode custar caro, muito caro à humanidade.
Admitir a existência do mal, saber-se hospedeiro e vítima dele, compreender sua natureza e, finalmente, ser capaz de buscar a necessária cura, tais são os passos a serem dados, se queremos realmente um destino melhor do que se vislumbra, no horizonte.
Somente a descoberta da virtude tão exaltada quanto incomum, que é a Humildade, há de permitir ao homem redefinir suas metas, seus objetivos e percorrer novos caminhos, que não o levem à inevitável destruição.
A imagem nos noticiários dos últimos dias, de centenas de pessoas atirando-se sobre o arame farpado da fronteira inventada pelos humanos em Melilla, enclave espanhol em território africano, é bem o retrato das conseqüências desastrosas das atitudes dos governos envolvidos e o retrato, frio e sem retoques, da natureza humana.
Muitas daquelas desesperadas criaturas tentam escapar à fome, à guerra, à perseguição. Outras, apenas buscam a chance de ter um trabalho melhor que lhes permita dar às suas famílias a dignidade que merecem. Presas no arame que rasga suas carnes, algumas assassinadas friamente, seus gritos de dor deveriam ecoar em todos lugares do mundo, nas escolas, universidades, fábricas e lares.
É preciso buscar a humanização dos seres chamados humanos, ou estaremos condenados à autofagia. É preciso redefinir o Homem como animal depredador, egoísta, insaciável. Talvez assim consigamos reconhecer a necessidade inadiável de controlar nossa índole e, pouco a pouco, dar tempo à evolução, mudança para melhor.
(Barcelona, 9.10.2005)