Miragens

As coisas não são.

 Apenas parecem ser, enquanto são.

As realidades são sonhos teimosos,

teimando em ser imortais, como se pudessem.

Sou todos os arquétipos

que incorporei à minha humanidade passageira

e todos convivem em mim, sem maiores problemas.

Aceito-os. Aceito-me. Sou. Pareço ser.

Dionísio, embriago-me com as imagens

que a Poesia verte em meu cálice;

Eros, animo-me, alma de terra,

com as imagens dos corpos belos;

Ogum, sou cavaleiro do bem, da justiça, dos oprimidos;

sou meu cão, Mon Ami, amigo, fiel, brincalhão, nostálgico;

sou iluminado e forte; sou também a sombra e a fragilidade.

Ou não sou. Apenas pareço ser, enquanto sou.

O que não importa, pois não há culpa nos deuses.

Nem em Mon Ami.

 

(Bangkok, 8.2.1998)

 

O Dia do Amigo

Segunda-feira é Dia do Amigo

porque é o primeiro dia de trabalho e

não se deve trabalhar sem ter um Amigo por perto.

 

Terça-feira, que ainda é começo de semana,

tem que ser também, pois todo início é complicado e, aí,

é melhor o Amigo continuar ao alcance do coração.

 

Quarta-feira, nem se fala!

Meio de semana, o cansaço vem chegando,

sexta-feira está longe e, assim, como passar sem o Amigo?

Não sou maluco de ficar sem ele!

 

Quinta-feira seria o único dia, em sã consciência,

em que eu daria folga ao meu Amigo.

Mas, como eu gosto muito dele, não dou!

É também dia dele!

 

Aí, chega sexta-feira. Fim de semana na porta,

com quem vou dividir a expectativa do sábado e do domingo?

Com quem vou desabafar as mágoas da semana que vai acabando?

Com o Amigo, naturalmente!

 

Bem, o sábado e domingo,

o primeiro porque é dia de pecar e o segundo porque é santo,

são também dias do Amigo,

com quem quero compartir minha alegria, o descanso,

a cerveja, a sauna, a conversa fiada e minha gratidão.

Afinal, ele merece, depois de ter me aturado

nos últimos cinco dias!

 

(Barcelona, 22.7.2002)