MEMÓRIAS DE UM CAMINHANTE
Fui pela Vida, como um vagabundo
Buscando o amor que julgava existir;
Andei pelos quatro cantos do mundo,
Até me cansar, até desistir.
Escutei o silêncio no deserto
E, no berço do sol, o vi se por;
Na guerra, tive a morte bem por perto
E, nos templos sem Deus, senti horror.
Aprendi a não carregar comigo
As pedras em que havia tropeçado,
Mas sim as flores que nascem do amigo.
Compreendi que o único Amor que existe
É o que se oferta, nunca o desejado;
É o que faz sorrir, mesmo quando triste.
(Barcelona, 9.10.2005)
O POETA
Somente a paixão acorda o poeta
Do sono triste dos comuns mortais.
Só ela o encanta, toca e completa
E o faz desigual de todos demais!
Entre as musas todas, é predileta
E nenhuma outra o convence mais
A usar a pena com fervor de asceta,
E tirar da alma o sangue dos jograis!
E quanto mais lhe arrebata a paixão,
Mais sofre e pena por amor sem fim,
Mais se escuta a lira em seu coração!
Vive o Poeta de pura emoção;
Voz que se cala, se não é assim,
Corpo sem vida, cantor sem canção.
(Barcelona, 12.9.2005)