SONETO DA POESIA
Um poema deve nascer suave,
De parto natural, feliz, sem dor;
Que nada seu amor à vida entrave,
Ou lhe roube o brilho, nem lhe tire a cor!
Deve ser lindo, sem o pretender;
Forte, sem provocar constrangimento;
Traga nas mãos a verdade e o saber
E anuncie a paz e o contentamento!
Se falado, vista-se de harmonia,
E escrito, desnude-se por completo,
Sem deixar de ser, na prosa, poesia!
Livre, seja a voz dos que são calados,
E prisioneiro, tenha o céu por teto,
Merecendo, assim, ser dos bem-amados!
(Barcelona, 11.6.2006)
TEU TESOURO
Nem sempre da terra o fruto colhido,
É aquele que a gente queria colher;
Nem sempre na vida o instante vivido,
É escolha de quem o tem que viver.
Nem sempre no mar o peixe pescado,
É aquele que a gente queria pescar;
Nem sempre no mundo o amor desejado,
Está no caminho onde vamos passar.
Alegre-te, assim, o que tens na mão;
Recusa à tristeza do que não tiveste,
Abrigo, morada em teu coração.
Será teu tesouro, ao fim dos teus dias:
Se não conseguiste tudo que quiseste,
Com que tu tiveste, te comprazias.
(Barcelona, 5.3.2006)