MINHA MUSA

A Filha de Zeus que me inspira

conhece o segredo da Morte

e canta, enquanto tange a lira,

os fados que me guarda a sorte.

 

Há vezes em que me transporta

através do Tempo e do Espaço,

abrindo aos meus olhos a porta

que leva, da Vida, ao regaço.

 

No delírio da Inspiração

com que me envolve, docemente,

liberta-se meu coração

 

e, em êxtases luzidios,

faz-se então livre a escrava mente,

ao som de cantos fugidios!

 

(Dacca, Bangladesh, 26.9.1977)

 

DO AMOR (II)

O Amor que sobrevive ao próprio fim

Não é o que se espera receber,

Mas o que se oferece, este sim,

Sabe o segredo de não fenecer.

 

A Razão manda na mão que recebe;

O Coração, na mão com que se oferta.

A beleza do Amor, só a percebe,

Quem ao Amado, tem a porta aberta.

 

Se todas as estrelas do universo,

Com seus brilhos, poderes e grandezas,

Coubessem, por milagre, num só verso,

 

Este seria, quem sabe, do Amor

Que não teme descer às profundezas

Para trazer à luz, seu Criador! 

 

(Barcelona, 11 de abril de 2005)