ÀS VEZES

Às vezes penso que já me esqueceste,

E que não moro mais em teu querer;

Que passei, enquanto permaneceste;

Que não sou mais, enquanto sabes ser.

 

Outras vezes penso que te esqueci,

E que não quero mais em ti morar;

Que passaste, enquanto permaneci;

Que deixaste de ser, com teu passar.

 

Às vezes penso que pensar demais

Na linda história que foi de nós dois,

Não leva à nada, não terá depois.

 

O Amor, por sábio, não dirá jamais

O que o futuro reserva ao Amante;

Prefere ser surdo, mudo e distante.

 

(Rio de Janeiro, 8.5.2007)

 

O AMANTE

As pessoas não amam porque querem,

mas sim porque o Amor assim deseja

e, com mãos que afagam enquanto ferem,

domina o coração em que viceja.

 

As pessoas amam porque têm sede

da água do Amor, sem a qual não vivem,

e, ao caírem n'água, caem na rede,

e, dela cativas, não sobrevivem.

 

O verdadeiro Amar é suicida,

e, para transformar-se em Ser Amado,

entrega, sem temer, a própria vida!

 

Morre o Amante, a morte dos heróis:

sacrifica-se, o momento chegado,

e ganha o brilho de um milhão de sóis!

 

(Rio de Janeiro, 19.4.2007)