“...À SUA IMAGEM E SEMELHANÇA”

O ser humano, tal como ele próprio se vê, é uma utopia, miragem que ilude os olhos sedentos dos orgulhosos bípedes. Especialmente nos livros das religiões das tribos ocidentais e meio orientais, seus autores tiveram o cuidado de deixar clara sua crença na enganosa superioridade do homo sapiens sobre os outros animais da criação. Não fizeram por menos: tacharam-se como os únicos “criados por Deus à sua imagem e semelhança”!

Um povo age de acordo com aquilo que pensa a respeito de si mesmo e andará sempre pelos caminhos das leis criadas por sua cultura e esta, via de regra, é filha predileta de sua filosofia religiosa, ou pela falta dela.

Ao idealizar-se como “ser superior”, “entidade quase divina” e imaginar-se acima das leis naturais que regem todos os outros animais, o homem caiu em terrível armadilha por ele mesmo criada!

Seus códigos penais, feitos sob essa falsa perspectiva, destinam-se a pessoas inexistentes, criaturas superiores e cheias de bondade, quem sabe eles mesmos daqui alguns milhões de anos.

Por serem assim, os tais códigos protegem os criminosos – ao invés de protegerem as pessoas de bem das investidas dos maus – incentivando-os, dessa forma, a cometerem mais crimes. Partem, quase sempre, da premissa aterradora de que o criminoso, em verdade, não é mau, apenas cometeu um erro e merece perdão e novas chances. Afinal, é um ser humano e, segundo a premissa...

Em verdade o homem, em seu atual estágio evolutivo, é um animal perigoso, um depredador inconseqüente de sua própria espécie e de todas as outras. Assim deveria ser visto e tratado de forma a temer a lei e, temendo-a, comportar-se melhor.

 

(Barcelona, 14.9.2006)

 

A IMUNIDADE, A IMPUNIDADE, A LEI.

A imunidade parlamentar, criada para proteger a palavra do representante do povo, transformou-se em proteção dos crimes de eleitos contra seus eleitores.

Os criminosos, investidos de poder pelo voto e assim travestidos em parlamentares, elaboraram intrincada malha de leis e normas que os protegem, quando são descobertos e denunciados.

Confrontados com o absurdo da impunidade para seu comportamento criminoso, limitam-se a repetir, cheios de cinismo:  “Que fazer? A lei assim diz, a norma assim quer.”, como se não tivessem sido eles os autores do lixo legal que os ampara!

Toda e qualquer lei deve servir ao Povo e nunca ser um instrumento contra ele. Qualquer texto legal que não cumpra seu fundamento maior, deve ser revogado. Os legisladores – esta é a sua função – devem cumprir seu dever que é, não o de legislar de forma mafiosa e em causa própria, mas sim o de buscar sempre o aprimoramento da Lei.

A norma que permite a um congressista renúncia ao cargo, não como auto-castigo ou fruto de vergonha e arrependimento, mas sim como repugnante esperteza que concede ao larápio corrupto o direito de aspirar a novo mandato, é uma dessas pestilentas firulas legalóides! Não merece ser chamada de Lei.

Esconde-se em oportuna gaveta no Congresso projeto de lei para acabar com esse desrespeito ao Povo. O corporativismo criminoso da maior parte dos congressistas brasileiros envergonha a Nação, cansada de tanta traição e deboche.

Muitos bandidos denunciados nos escândalos do mensalão  e, recentemente, no dos sanguessugas, são candidatos à reeleição. Que o Povo pense bem, antes de repetir o erro, reelegendo mafiosos para o Legislativo e Executivo do País                                                

 

(Barcelona, 24.8.2006)