O PRIMEIRO AMIGO
Hoje é dia do aniversário do meu primeiro Amigo, nascido vinte e três dias antes de mim e quase meu vizinho, na infância.
Crescemos juntos, freqüentávamos as casas, um do outro, brincávamos e, até ao fim de nossa adolescência, convivemos também nas escolas.
Ele ainda tem o privilégio de viver e trabalhar em nossa pequena cidade natal, onde é querido por quantos o conhecem. Para mim, regressar definitivamente à terra de origem, dentro de uns poucos anos, quando me aposente, é velho sonho, prestes a se tornar realidade.
De Barcelona, liguei hoje pela manhã, para felicitá-lo e demonstrar-lhe, assim, minha lembrança, meu afeto. Poderia fazê-lo pessoalmente, dentro de alguns dias, quando chegue lá, como previsto. Não seria a mesma coisa. Preferi chamá-lo, por telefone. Não se deve esquecer, nunca do primeiro Amigo, nem descuidar de demonstrar-lhe o sentimento. Quem o faz, perde o direito ao último.
Combinei com ele um almoço em minha casa, nas próximas semanas, durante minhas férias anuais. Na ocasião, pretendo reunir-me com ele e mais dois companheiros de infância que, atualmente, residem no Rio. Os caminhos da Vida nos levaram a lugares diferentes, afastando-nos fisicamente, uns dos outros. Aos dois amigos a quem me referi, há pouco, não vejo há mais de quarenta anos!
A Vida, como sabemos agora, no outono da existência, é muito mais passageira e rápida do que imaginávamos ou queríamos, em nossa juventude. Estamos, acredito, esses amigos e eu, no tempo de encontrar respostas às grandes perguntas, de saber, por exemplo, o que realmente vale à pena, na Vida.
Hoje, tenho certeza de que a Amizade é um dos grandes tesouros a serem descobertos, conquistados - por merecimento - ao longo dessa extraordinária jornada a que chamamos Viver. Quem tiver um Amigo, que o guarde com zelo e carinho maiores. Dificilmente, terá motivos para se sentir mais rico ou mais feliz.
Dizem meus Anjos da Guarda que Deus só deixa entrar no céu quem traz, no coração, a lembrança de - pelo menos - um Amigo. Mais uma razão para não esquecer de nenhum deles.
(Barcelona, 6.12.2004)
AU-AU, DEPUTADO...
Um nobre deputado da egrégia câmara teria oferecido sua tão esperada contribuição à solução dos grandes problemas nacionais, que não são poucos, convenhamos! Se seus pares estiverem de acordo (Deus nos livre!), será ilegal dar, aos nossos cães, nomes de animais humanos! Bravo! Bravíssimo! Estamos salvos! O país pode dormir, tranqüilo... Já tem seu grande líder!
Não quero salgar o doce nem fazer chover em casamento, mas preciso de alguns esclarecimentos sobre tão iluminada proposta parlamentaria. Por exemplo: poderemos batizá-los de "Amigo", "Companheiro", "Fiel", ou esses adjetivos, se na sábia opinião do extraordinário político só deviam merecer os animais humanos, estarão também proibidos? Poderemos chamá-los, quem sabe, de "Doutor", "Professor", "Pastor", "Deputado"...? Ou ainda esses títulos estarão na lista dos não permitidos? Finalmente, se a intenção for ofender a algum cachorro, estaria aberta a exceção da lei? Ilumine-nos, ó autor de tão elevada proposta!
Bahhhhh!
Francamente, senhor deputado de meia-tijela! Vossa excelência acaba de ofender Amigos meus! Se tivéssemos todos, algumas das virtudes sobejamente reconhecidas nos cães, o mundo seria muito melhor, muito mais digno! Seríamos capazes de eleger até e com certeza, representantes com alguma sabedoria e menos preconceitos!
Ao longo do caminho, tenho convivido com seres humanos e caninos, aprendendo, com ambas espécies, lições importantíssimas. Confesso, no entanto, jamais ter sido traído por qualquer dos cães com quem tive a honra de compartir a Vida. Dos humanos não posso, infelizmente, dizer a mesma coisa...
Por isso e em respeito, gratidão e admiração por meus amigos e amigas da raça canina (Menelique, Malhado, Nilson "Vira-Lata", Senhorita, Yuri, Lua, Mon Ami, Panda, Lady, William e Zapata, entre outros), faço pública minha autorização para que seus congêneres humanos batizem seus cães com meu nome, se acharem que eu mereço tal distinção. Ficarei eternamente honrado e agradecido. Quanto à tolice do deputado, se virar lei, ao lixo!
(Barcelona, 20.11.2004)