ESTÓRIAS DE JESUS
Eu era menino e as crianças pressentem a bondade nos adultos. Por isso, desde a primeira vez em que o vi, senti que era uma pessoa boa e disso davam conta seu sorriso, seu jeito manso.
Não me lembro de ter jamais falado com ele mas de tê-lo encontrado muitas vezes, na rua. E cada vez ele sorria, ao passar. Tampouco o vi, jamais, alterado, discutindo, ofendendo alguém.
Era alto, magro, rosto marcado pelas rugas de Deus-sabe-que-desgostos, possíveis motivos que o levaram a tornar-se um ébrio e, por isso, um pária. Era, no entanto, um bêbado que sorria, manso, para as crianças.
Conta-se, certa vez, num domingo de sol e já embriagado, entrou na igreja catedral, quando se realizava a missa das nove horas da manhã. Essa era conhecida como a "missa dos ricos", que podiam acordar tarde...
O padre, no altar, desfiava o surrado sermão do dia. Incomodado pela pequena comoção criada pelo bêbado que ousara entrar no templo, determinou que o sacristão o fizesse sair.
Quando o obediente sacristão o empurrava, com firmeza, em direção à porta de saída, ressoaram, mais forte que a voz do sacerdote, as palavras de protesto e revolta de Jesus: "Vergonha! Vergonha! Querem botar Jesus para fora da igreja!"
O bêbado Jesus foi posto para fora do templo mas nunca de minha memória de menino, que guardou dele a lembrança de seu sorriso e de sua mansidão.
(Barcelona, 31.10.2004)
O PRÓ-OUTRISMO
Chega de anti-isso, anti-aquilo, anti-aquilo-outro! A Humanidade deve dar um basta aos preconceitos, mal de muitas faces, espalhado pelo mundo inteiro.
Devemos promover a guerra final contra esse odioso sentimento, disseminando a idéia do combate ao anti-outrismo, incapacidade de um aceitar o outro, por diferença que não a de Caráter mas de cor, orientação sexual, religião, status social ou qualquer outra.
É preciso que nos lares e escolas as crianças aprendam a respeitar a diferença dos seres, de seus costumes, hábitos e maneiras, sempre que isso não seja reflexo de idéias preconceituosas e usado para desrespeitar os outros. Os homens devem ser medidos por suas Virtudes, somente.
O respeito às idéias alheias não implica, necessariamente, em se concordar com elas. A discordância é, muitas vezes, a mais digna manifestação de respeito à alguém. O importante é que, ao discordar de uma idéia, não cometamos o erro de desrespeitar a pessoa que nela acredita. Devemos ser capazes de separar, e bem, as duas coisas.
As divergências que resultam de preconceitos podem - e o têm feito - levar o homem a agredir o vizinho, o irmão e, em última instância, levar nações à guerra, à destruição, à morte.
Devemos cuidar para que, em momento algum, escapem de nossos lábios palavras que representem, induzam ou, por omissão, alimentem qualquer tipo de sentimento preconceituoso.
Precisamos atentar sempre para que o germe maldito do preconceito não se instale em nossas almas e, de lá, da forma sorrateira e vil que lhe é peculiar, se manifeste através de nossos pensamentos e atos.
Proponho a criação do movimento Pró-Outrismo, forma afirmativa de combate ao seu oposto. O software e a instalação nos corações seriam gratuitos e o programa poderia ser encontrado em servidor universal: www.Razão.nós.
(Barcelona, 31.10.2004)