SE EU AO MENOS PUDESSE...

Na última vez em que estive junto ao meu melhor Amigo, eu não sabia que seria a última vez. A gente nunca sabe. Por isso, tratei-o como se não fosse, como se viessem a existir muitos outros encontros, em nossa vida. Não era para ser.

Se eu pudesse estar com ele, ainda mais uma vez, eu lhe diria o quanto lhe sou grato por tudo que fez por mim, por seu trabalho árduo, de tantos anos, transformado em alimento, roupa, abrigo e educação para mim, meus irmãos e irmãs;

Eu lhe diria o quanto aprendi com seus ensinamentos, com seus exemplos de honestidade, lealdade e bondade, com suas ocasionais zangas justificadas, seus freqüentes momentos de ternura;

Eu lhe diria o quanto me têm valido, até hoje, as bênçãos que derramou, com generosidade de quem ama, sobre meu coração de menino, quando eu lhe pedia e mesmo quando não pedi;

Eu lhe diria que seus conselhos, palavras de sabedoria simples e pura, eu os tenho como farol a guiar meus passos, e que seu Neto os têm escutado de mim.

Ah, se eu soubesse que aquela seria a última vez... Eu não lhe teria dito apenas que, em nossa próxima vida juntos, ele seria meu filho, para que eu pudesse retribuir-lhe, em parte ao menos, todo o bem que ele me fez. Eu o teria também abraçado, e nosso abraço seria tão longo que não teria fim, tão caloroso que jamais deixaria chegar o inverno da separação, que viria meses depois, quando eu estava muito distante.

Eu não sabia... Hoje, resta-me o consolo de ter dado ao meu Filho, seu nome, maneira que encontrei de homenageá-los, aos dois, de aproximá-los, de fazer dele, meu melhor Amigo, Anjo da Guarda também de seu Neto.

Se ao menos eu soubesse... e depois de convencido de que não poderia evitar o adeus, eu teria ajoelhado aos seus pés e pedido, pela última vez, sua bênção. E lhe teria dito: obrigado, Papai!

 

(Barcelona, 17.10.2004)

 

MARQUÊS DE VALENÇA, CAIA NA REDE!

No espaço onde convivem hoje as comunicações, o que cai na rede não são peixes, mas mensagens, operações comerciais e bancárias, enquanto o pescador é chamado de internauta. E mais: na "rede" se discute, se conhece, se despede, se perdoa, se namora, se odeia, se ama, se compra, se vende, se consulta, se aprende, se visita, se diz alô e adeus. A "rede" envolveu o mundo todo, numa teia eletrônica. Quem ficar de fora, ficará fora do mundo.

O futuro chegou e é preciso aceitá-lo, compreendê-lo, dominá-lo. Senão, perdemos o bonde, o trem, o avião, a nave espacial. E não iremos a lugar algum, condenados a viver no passado, o que passou, morreu... O passado só é bom e vive quando é trazido ao presente, em forma de experiência, ensinamentos.

Um dia fomos, os Valencianos, senhores do café, em tempos de opulência. Depois, das indústrias têxteis, de grandes progressos. E hoje, de que somos senhores? Perdemos para o Tempo, as fazendas do café (e bom que se foram, com elas, as vergonhas da escravidão!) .Nossas fábricas fecharam, por excesso de competição externa e por falta de competência nossa em enfrentá-la. Não adianta chorar o leite derramado e muito menos esperar que nossos problemas (de desemprego, de falta de perspectivas) se resolvam sozinhos, como num milagre. Os Santos não gostam dos preguiçosos e não têm tempo para ficar escutando seus lamentos inúteis. Estão ocupados, ajudando quem se ajuda.

Precisamos criar novas "fazendas e fábricas" que voltem a fazer correr, pelas veias de nosso Município, o sangue do progresso. Que tal atrair para nossa terra, indústrias da informática e empresas de seus serviços? Afinal, temos até a mão de obra que se forma, a cada ano, em nossa Faculdade do ramo. Deveríamos ter um projeto de formação de profissionais ainda mais qualificados e de divulgação de Marquês de Valença que chegasse aos olhos e ouvidos de quem tem poder para investir, nesse campo. Países como Índia, Tailândia e Coréia do Sul o fizeram e colhem os frutos de grandes inversões de capital, gerando empregos e divisas para o seu desenvolvimento. Se queremos um exemplo mais próximo, temos Piraí, que vem fazendo o mesmo!

Para fazer minha parte, estou planejando levar essas idéias a um amigo, atualmente executivo senior em firma norte-americana de investimentos na América Latina, e que já foi chamado, pela imprensa especializada, "um dos expoentes da informática, no Brasil". Quem sabe, conseguiremos alguma coisa? Sei que vou tentar. E você, o que vai fazer?

 

(Barcelona, 15.10.2004)