SONETO INFERNAL

É certo que no inferno há poetas;

talvez muitos, por diversas razões:

por ódio, alguns, de musas desafetas;

outros, por diabólicas paixões!

 

Vagarão pelas colinas candentes,

poetas como eu, desajeitados,

buscando o ritmo e rimas, ausentes

dos poemas, em vida, rabiscados.

 

Na corte de Lúcifer, entretanto,

não seriam eles os mais contados,

oh, não, que aos deuses lhes apraz seu canto!

 

Ao contrário, a Musa agora anuncia

que grande parte dos infernizados

gosta das leis e da diplomacia...

 

(Beirute, Líbano, 13.9.1978)

 

DA VIDA

A Vida não passa. Passamos nós,

como passa o vento pelas campinas:

brinca ligeiro com flores e, após,

restam lembranças de um vento traquinas.

 

Breve mergulho é o dom de existir

nas águas perpétuas de um grande mar.

Ai de quem tenta em vão se iludir,

e quer ser plural, se é singular.

 

Não, nada existe além deste momento,

síntese única da eternidade,

estática alma do movimento!

 

Agora! Este é o tempo de viver

a Paz, nosso Amor, a Felicidade!

Depois... logo... amanhã... resta morrer...

 

(Beirute, 19.3.1979)