Se o Tempo não fosse o rio que é,
Como eu chegaria ao Porto Final,
Onde os lambaris têm nome de Zé,
E dão o meu nome a cada piau?
O Tempo do Amigo tudo transforma,
Subverte e muda Razão e Fé!
As coisas não são o que indica a Forma,
E seu conteúdo, eterno não é!
O Tempo que passa e guarda a Lembrança,
O faz por saber que sem a Saudade,
Viver viveria sem Esperança.
Poeta? Talvez. Piau? Certamente.
Só pode ser triste quem, em verdade,
Sabe da alegria de ser contente!
(M. de Valença, 11.06.2011)
OPUS 65
Quanto mais velejo, vejo mais distante
Meu objetivo, porto de descanso
De minha alma triste, barca itinerante
No alto mar ferida, longe do remanso.
Quanto mais caminho, sinto menos perto
Minha plenitude, a pousada mansa
Dos meus pés cansados do cruel deserto
Que, em minha vida, friamente avança.
Onde estás, estrela a me servir de guia,
Abrigo e fonte amiga, a me livrar da morte,
Transformando a noite em glorioso dia?
Nesta solidão, que tudo silencia,
Resta uma esperança de quem sabe a sorte
Brilhe novamente e que eu, talvez, sorria.
(M. de Valença, 9.6.2011)