PASTORIL
As ovelhas seguem seu pastor,
deslizando suavemente pela colina seca,
por entre um rebanho de arbustos.
O dócil jumento negro carrega seu mestre
e sinos em seu pescoço conversam com as ovelhas.
O dia é calmo, frio e azul, imensamente azul.
Tudo parece estar em seu lugar.
O som dos canhões, os gritos de ódio,
a tristeza do mundo e as dores dos homens
fingem ter se ausentado da vida.
Eu me sinto calmo, frio e azul,
imensamente azul, como o dia.
(Amã, Jordânia, 25.11.1980)
CARTA PARA VINÍCIUS
Meu Poetinha querido,
dizem os jornais que leio no exílio do emprego público,
que tu "est mort" e "dead";
dizem que morreste de um edema pulmonar,
rima fácil de ser feita mas de não se acreditar.
Imagina, Vinícius, então quem foi atento,
zeloso e fiel à Vida à cada momento
e que espalhou seu canto, riu seu riso e derramou seu pranto
por amor e pelo amor somente,
mereceria a grande ausência, angústia dos mortais?
Quem aprisionou o infinito no verso final de um soneto
não escaparia ao fim, sendo Vinícius,
e não seria imortal, posto que amado? Pois sim!
Eu te creio vivo, Poeta!
E me serás eterno enquanto durares
e florescerem os versos que semeaste à tua volta,
em teu caminho.
(Beirute, 13.7.1980)