MILAGRES  

O cego vê, o mudo fala, anda o que não tem pernas,

escuta o surdo, cura-se o doente da doença sem cura!

 

No entanto, o milagre maior é o próprio viver:

ter sede e água, ter fome e o que comer,

ter sono, dormir e acordar do sono,

ter lágrimas para chorar e sorrisos de sorrir,

ter alguém na solidão de ser.

 

O maior milagre da vida é ter o direito de morrer.

 

(Beirute, 10.5.1979)

 

GARIMPANDO SONHOS

Andei o mundo, cavei a terra, peneirei a lama,

dormi com a lua e amei o sol,

no diário trabalho de viver minha morte.

 

Garimpei nos oceanos e nas poças d'água, todas!

Garimpei os povos que encontrei.

 

Achei uma pedra que achei

solitária nuvem, mineral, humana.

Amei-a com febre, delírio quase ódio,

até que em minhas mãos ela se desfez,

como um sonho que se esvai ao fim da noite,

como um sonho ao fim da noite, nada mais...

 

(Beirute, 4.6.1979)