Há homens que se julgam dignificados pelos cargos que ocupam. Esses, seus títulos os vestem mal, qual desajeitadas fantasias.

Há outros homens que dignificam as funções que exercem. Nesses, os títulos realçam as virtudes, os conhecimentos.

Daqueles, o orgulho e a vaidade afastam os homens de bem. Desses, a humildade sem falso sentido aproxima os homens que cultivam a correção de atos e o respeito aos bons princípios.

Uma estrela não é uma estrela porque se creia, se anuncie ou se proclame estrela. Uma estrela é uma estrela porque é uma estrela. E sua grandeza não será medida, certamente, pela própria crença no brilho que julgue possuir nem por tentativas inúteis em fazer com que os outros creiam que as demais estrelas brilham menos do que realmente brilhem.

Uma vela acesa na escura planície parecerá um luminoso astro e iludirá incautos e apressados juízes. Até que uma leve brisa sopre... Um verdadeiro astro não se apagaria. Também não é fácil iludir um cuidadoso juiz.

Há homens, com seus cargos e títulos, que parecem estrelas porque se crêem estrelas, se anunciam estrelas, se proclamam estrelas. E falam de suas grandezas inexistentes com a certeza dos loucos. Mas não são estrelas. Frente à mais leve brisa da adversidade vacilam, trêmulos. Ante olhar cuidadoso, revelam o que realmente são: pequeninas velas na planície escura.

A estrela e o Homem não precisam de títulos de grandeza. Esses é que se justificam nas verdadeiras estrelas, nos verdadeiros Homens, para quem a Honra e o próprio nome são os títulos maiores.

(Bangkok, Tailândia, 1.2.1989)

 

 

 

No início, há muitos anos,  não podia compreender que era assim que as coisas aconteciam. Desde então, repetidas ocasiões me ensinaram uma da mais estranhas lições da Vida: o que às vezes nos parece mal, nos trazendo dor, sofrimento, angústia, revela-se, com o passar do tempo, na fonte mais pura de nossas alegrias!

O grande tesouro, em minha vida, é meu Filho. É ele a razão e origem de minha felicidade maior. No entanto, para que eu pudesse reencontrá-lo, foram necessários muitos anos de busca e tantos quantos momentos de perplexidade frente a acontecimentos que, enquanto pareciam trágicos obstáculos, não passavam de providenciais auxílios que me levaram ao caminho correto, que me permitiria, finalmente, achá-lo.

Assim é que, hoje, agradeço a pessoas que, por terem sido instrumentos do destino, cheguei a detestar, ignorando seu verdadeiro papel em minha vida. Pessoas que, quando tentaram fazer-me o mal, estavam, em verdade, ajudando-me a encontrar o Bem.

São realmente estranhos, os desígnios das coisas que acontecem, em nossas vidas. Somente o distanciamento no tempo nos permite ver, com clareza, o que aconteceu de fato, e não o que nos parecia acontecer, então. Afinal, no centro de uma fogueira, queimando e sofrendo, não se pode ter a serenidade necessária para compreender como surgiu o fogo, e como apagá-lo.

O Tempo, como as águas de um rio, sabe de onde veio e para onde vai. Nós, só descobrimos tais coisas depois que aprendemos a aceitar, a compreender que, enquanto somos levados pelas águas do Tempo, temos tempo para entender para onde somos levados, e por quê.

Para sermos capazes de ver, com olhos de Verdade, a Vida, temos que cerrar os olhos às aparências dos acontecimentos, ao que apenas parece acontecer. E, esperar. Até que as águas se acalmem, que o fogo se apague.

Barcelona, Espanha.