PUB  III  

No último outono as folhas caíam

e você pousou suavemente em minha vida.

 

Não foi frio o inverno,

 a primavera nunca foi tão linda,

e o verão que a sucedeu

invejou o calor do teu corpo, envolvendo o meu.

 

Voltou o outono.

As folhas recomeçam a cair,

seixos vegetais bailando no ar.

 

Você não voltou.

A vida, amarelada de tristeza,

desprendeu-se de tudo e vai rolando, suavemente,

sobre minha face crispada de amargura.

 

(Beirute, 30.9.1980)
 

AUSÊNCIA DE LUZ     

Por que partiste, tão inteiramente,

se é tanto o Amor que te devoto?

 

Por que teus olhos, deitados na retina dos meus,

tuas mãos, cálidas entre as minhas,

teus lábios, afagando meus lábios,

teus cabelos, brincando em minhas mãos,

teu corpo, esquecido dentro do meu?

 

Por que assim invades meus sonhos?

 

Por que a ausência do Amor

é o Amor mesmo, ainda mais forte?

 

Por que te amo, te quero, te adoro

e preciso respirar-te, como se fosses o próprio ar?

 

Por que ficaste, tão inteiramente,

se nem mesmo posso te amar?

 

(Beirute, 30.9.1980)