O QUERAI
Velas rotas, quilha velha,
remo na água parda do rio,
o querai tem seu dono e seu dono, como ele,
carne velha, roupas rotas,
esperança do peixe vida
no rio de águas pardas.
Moema bengali, abençoa o pescador
e dá-lhe ao menos o bom peixe,
pois é tudo o que precisa o dono do querai,
que te acaricia com o remo,
enquanto dormes teu sono de deusa.
(Dacca, Bangaldesh, 29.6.1975)
NAWAB ALI KHAN
Teu berço foi a calçada fria, suja, molhada;
teu primeiro choro, tão curto, não previa
quantas lágrimas viriam;
tu buscaste no peito materno, descarnado,
o leite sagrado da Vida e lá o encontraste, embora pouco;
as cantigas de ninar foram lamentos em lágrimas
que te adormeciam, no entanto;
tuas primeiras vestes foram trapos
arrancados aos dos teus pais,
felizes e aflitos por vires.
Esta é a tua origem, minha criança, e tu,
um herói, por teres sobrevivido.
Agora, que me pedes comida, ainda na calçada,
menino em farrapos, eu me amarguro,
reconhecendo que a fraternidade entre os homens,
ou nunca existiu ou terá morrido no primeiro choro,
numa calçada fria, suja, molhada...
(Dacca, Bangladesh, 29.6.1975)