LUZ DE MIM, MANSA CLARIDADE  

De repente, voltaste!

Instante manso e tão esperado,

alegria prometida aos meus desejos.

Como festejar-te, Amor?

Calei-me e, através dos cristais salgados

das lágrimas de minha ternura por ti,

sorri todos os teus sorrisos,

ciosamente guardados em tua ausência.

Vesti-me de afeto e recolhi, garimpeiro de sonhos,

cada seixo sonoro no riacho de tua voz,

a me contar estórias, a me despertar!

Entrei de novo em teus olhos,

deslumbrado por tê-los como a um templo e

como se novamente fosse novidade.

Percorri, feliz como criança ao ganhar brinquedos,

os caminhos macios do teu interior,

onde sempre me perco, para que me aches.

O tempo não passou, extasiado,

até que o silêncio de tudo veio nos lembrar da noite.

Me abraçaste e teu abraço povoou meu espírito de mansidão.

Repousaste em minha mão teu rosto e,

tão calmamente quanto chegaste, adormeceste em mim.

Amanheceu...

(Beirute, 12.5.1980) 

LUZ DOS MEUS OLHOS

Se, de repente, um raio de sol interromper a madrugada

e surgir por entre a montanha e o céu, por entre o verde e o azul;

se isso acontecer no momento último do êxtase

e no primeiro da paz que envolve o amor;

se uma gota de orvalho, espreguiçando-se na relva,

estremecer surpreendida com a beleza cativa do instante

e os pássaros, despertados por luminosa carícia em suas penas coloridas,

encherem o ar com trinados de incontida emoção;

se uma brisa mansa, morna e macia percorrer,

em sentido contrário, a penugem virgem da pele da manhã

e anunciar, sussurrando, promessas e sonhos;

se nesse momento ainda, uma onda leve quebrar-se

em cristalinos fiapos, junto ao limo das recordações;

se misteriosa canção vestir as coisas todas de indefinível beleza

e tudo que existe, existiu ou que se pretende,

tomar-se de mágica e encantamento,

esse será, por certo, o momento em que eu abrir os olhos e,

à minha frente, encontrar os olhos sorridentes do meu Amor,

iluminando, com a ternura da chama de uma vela,

a noite de minha solidão!

(Beirute, 16/17.3.1980)