CANTIGA PARA UMA TARDE DE CHUVA
Se penso em ti, fico triste;
se não pensar, morrerei.
És tudo de bom que existe,
viver sem ti eu não sei.
És a luz dos olhos meus,
pulsar do meu coração;
meus pensamentos são teus,
é tua minha canção.
És a lembrança querida,
que dói mas me faz feliz;
a razão de minha vida,
és tudo que eu sempre quis.
A tua ausência lamento
como se fosse morrer,
como quem vive em tormento,
longe do seu bem-querer.
Volta, meu amor primeiro,
volta, meu sonho encantado!
Sem ti, me sinto um saveiro
náufrago em mar agitado!
Sem ti, sou pedra perdida
num canto, à beira da estrada;
sou tristeza, alma ferida
a vagar na madrugada.
(Brasília, 2.10.1981)
POR UM RAIO DE SOL
Com que nudez vestiu-se minha vida, quando me deixaste!
Essa solidão de galhos secos, que o vento triste ignora,
vai acabar me matando ao matar, em mim,
a esperança de rever-te.
Essa escuridão de olhos cerrados,
que a lembrança dos teus olhos realça,
vai acabar me fazendo triste,
infinitamente triste e sem motivo.
Ou quem veio do sol e deitou-se em meu leito,
suave como um raio de luz, vai me iluminar de novo?
Ah, amanhecer que tarda!
(Brasília, 23.9.1981)