OLHARES

Quando eu passar de novo,

se estiveres no mesmo lugar,

vou parar ao teu lado

e te convidar para a festa

que preparei há tanto!

 

Vou ficar encabulado e,

provavelmente, diga tolices,

dado ao incomum de se festejar

quem não se encontrara ainda.

 

Tentarei a desculpa única:

os poetas são muito estranhos...

 

E te pedirei, caso não queiras vir,

não me olhem mais os teus olhos assim,

como se fossem eu a chamar por mim...

 

(Beirute, Líbano, 25.06.1979)
 

DOCE LOUCURA

Eu senti tua fome, amarguei teu frio,

chorei tua tristeza e me contorci de tua angustia.

 

Eu abriguei teu ódio, acalentei teu amor,

vivi tua morte e morri tua vida suicida,

renascendo em mim.

 

Eu te fui e tu me foste.

 

Eu te dei meu corpo e me vesti do teu,

me enfeitei com teus sonhos

e te entreguei os meus.

 

De tal modo que, quando chegou a hora

e deixei teu quarto - ou era o meu?-

esqueci meu nome - ou seria o teu?

 

(Beirute, Líbano, 25.06.1979)