HAICAIS

Choveu no deserto.

O amigo mandou notícias

nas asas do vento.

 

(Dacca, Bangladesh, 8.9.1975)

 

*

 

No deserto,

De repente, um oásis.

Cartas de Amigos.

 

(Beirute, 12.4.1979)

 

*

 

As estrelas brincam

De roda há milhões de anos.

O homem envelheceu.

 

As prisões estão

Repletas de injustiçados.

Pensamentos fogem.

 

O pássaro canta,

Vales e rios escutam.

Alguns homens falam.

 

Notas musicais

Dizem poemas de Amor.

Fuzis se calaram.

 

As pedras rolaram

Pela encosta da montanha.

A vida tem beiras.

 

Os mares são todos,

Filhos de pequenas fontes.

Quanto importa o berço?

 

As fortes raízes

Levam gigantes ao céu.

Um ideal, se planta.

 

O sol nos aquece,

Desde que o tempo surgiu.

Há gente tão fria.

 

O vento carrega

As nuvens de tempestade.

Amigos que ajudam.

 

Folhas, por si só,

Buscam, sôfregas, a luz.

Ódio é escuridão.

 

O cão não se humilha,

Quando lambe a mão que o espanca.

Amar faz humildes.

 

Frutos sazonados,

Colhidos na árvore amiga.

Onde colher a Paz?

 

Na fronte da terra,

Fronteiras de arame e espinhos.

O homem se flagela.

 

Pássaros emigram,

E deixam vida, aonde chegam.

Os soldados viajam.

 

O brilho da estrela

É, em verdade, seu passado.

O tempo inexiste.

 

Diamantes surgindo

Na água pura do riacho.

Lágrimas que brilham.

 

O espinho é, da flor,

A proteção e segurança.

Julgar é difícil.

 

Os ramos se dobram,

Para não serem quebrados.

O orgulho, se quebra.

 

Pedra, ao rolar,

Transforma-se em belo seixo.

Viver, muito ensina.

 

As marés são ânsias

Do amor da terra pela lua.

“Amai vosso próximo.”

 

A noite está cheia

De cantigas de ninar.

Os canhões não dormem.

 

A enxada na terra

Abre o berço ou faz a cova.

Escolher sementes.

 

Todo pôr de sol

Teve início ao meio-dia.

Bom é não chegar.

 

A abelha, que espalha

O pólen, vive da flor.

Vida gera vida.

 

 

Caminhos são feitos,

E não fazem caminhantes.

Aonde vai o homem?

 

O solo é mais fértil

Quando a árvore o protege.

Gratidão é um bem.

 

O arroz, tão branco,

Nasce no lamaçal.

As lágrimas lavam.

 

As chuvas apagam

Todos os passos na estrada.

A consciência guarda.

 

Cada terremoto

É um grito de dor da terra.

Dói muito, ajustar-se.

 

A manhã é tão bela

Porque sucedeu a noite.

A guerra é tão feia.

 

Era tão criança,

Que esqueceu de envelhecer.

Brincou de ser velho.

 

As nuvens mais negras

Anunciam campos bem férteis.

O que é fácil, é estéril.

 

Relógios não dizem

O que fizemos do tempo.

O Amor eterniza.

 

Os lírios do campo

Jamais invejam outras flores.

O simples é belo.

 

Foi crucificado.

Seu odioso crime: amar!

Pobres inocentes.

 

Árvores tombadas

No fazer caminhos de ódio.

Houve muitas baixas.

 

Árduo compreender

Como destruir diferenças.

Crianças sorriem.

 

Um pássaro morto

É um canto a menos no mundo.

Uma voz a menos.

 

Colocaram rosas

Em suas gaiolas de ouro.

Ser livre é perfume.

 

Acordou bem cedo

E viu o sol se levantar.

Há o momento certo.

 

De ficar sentado,

Pensou que estrelas caíam.

A gente se engana.

 

(Brasília, 1973)