PUB I

Aqui, no mesmo lugar

 onde primeiro nos sorrimos e escutei tua voz,

vim buscar o passado,

o berço da imensa saudade que sinto de ti.

 

Entre as vozes todas do pub,

escuto o silêncio monótono

da tua ausência...

 

(Beirute, 17.9.1980)
 

À LUZ DO CANDEEIRO  

Abre tua porta,

teus olhos, tua boca, teus ouvidos!

 

Abre tudo de ti,

o que te pertença e o que seja de teu cuidado,

porque venho chegando e quero entrar,

porque estou vindo de longe

- sou vizinho da saudade -

e quero estar em ti com suavidade

e desnudar-me com pressa

e banhar-me, sensual e meigo, dentro de ti,

para que durmas em meu corpo, como fizeste uma vez!

 

Abre teu umbigo rosado, pétalas retorcidas com arte,

que eu te religarei a mim

 com um cordão de paina enfeitado com sereno!

Eu te trarei de volta ao meu útero de homem,

que sou mãe de teus sonhos,

que te embalo em meus braços,

que te canto ninanças, *

que te faço dormir.

 

Abre tuas mãos em concha

que eu pousarei qual brisa, apagarei a luz

e, quem sabe, finalmente descanse,

morto. De Amor.

 

(Beirute, 24.8.1980)

* "ninanças" = canções de ninar