POEMA EM PERSPECTIVA

Que  meu poema seja um canto forte

e, ao mesmo tempo, suave cantiga;

que meus versos exultem de energia,

como rios de luz a correr no sol,

mas que deslizem mansos, como o luar

por entre folhas vestidas de orvalho;

 que seja terno como a brisa

acariciando pudicas dunas no deserto;

que  meu poema seja verdadeiro,

ainda que a verdade traga em suas mãos

a morte de outras ilusões;

 

que ele seja lúcido e não confunda os corações dos homens;

que saiba o que contar da Vida,

merecendo assim o respeito dos velhos,

mas que seja simples como estória de ninar

para que as crianças possam compreendê-lo;

 

que meu poema seja sempre escravo da Liberdade

e, de uma forma ou de outra,

um permanente canto de Amor!

 

(Amã, Jordânia, 20.10.1980)
 

ESTRANHO POEMA  

Foi o poema mais estranho, mais teu e meu,

mais carinhoso, mais lindo que escrevi:

sobre o papel macio, no hotel distante,

num entardecer de outono,

qual dispersas folhas caídas assim ao acaso,

em letras pequenas, grandes,

redondas ou não, rápidas e lentas,

de um lado, do outro, transcrevi suavemente

as notas musicais da tua ausência,

desenhei minha ternura, escrevendo repetidas vezes,

 como a murmurar a oração mais simples, mais pura,

teu nome, meu Amor!

 

(Amã, Jordânia, 20.10.1980)