OS REFUGIADOS
Eles fogem pelo mar em barcos frágeis
que morrem nas tempestades!
Eles fogem das florestas que explodem,
minadas com ódio de aço,
e dos desertos de sede, fome, abandono!
Eles fogem aos milhares, eles fogem!
Os vizinhos não podem dar muito
nem espaço econômico há para tantos.
Assim, são armazenados, às toneladas,
entre cercas de arame farpado,
onde seus sonhos são vizinhos
das sobras das nossas mesas.
Mas eles continuam a chegar, aos milhares;
milhares de olhos fundos, ossos pontudos,
pés descalços, corações medrosos, aos milhares!
O mundo lê, o mundo discute, o mundo vê,
o mundo escuta sua tragédia, mas quase nada faz,
por medo de amar.
E, aos milhares, são tocados de volta
ao mar, ao deserto, à floresta, à morte.
(Beirute, 28.6.1979)
HORA DA CHAMA
Hora tardia, o tempo passou.
Avançou a escuridão e a luz do Direito,
candeeiro na planície humana mergulhada em noite,
também passou, desapercebida.
É preciso parar, voltar os passos, se necessário,
e buscar o conforto do Amor,
pequena chama que resiste, ó mistério,
aos vendavais dos séculos!
Simples Claridade,
ao teu redor, o homem se ilumina!
(Beirute, 7.8.1979)